A GAGUEZ NAS CRIANÇAS – parte I

Cartaz ilustrativo com rapaz a gritar para um microfone

“Tenho medo que o meu filho tenha problemas. Imagina que é gago!”

“A minha filha é tão faladora, sempre falou tão bem, mas agora gagueja muito! Será que vai ser gaga?”

Frases como estas são ditas e ouvidas todos os dias, em vários locais e proferidas por pessoas de todos os estatutos sociais. Mas porque é que a sociedade olha para isto como um problema assim tão grave? E é efetivamente um problema assim tão limitador? É ou não possível evitar? Neste artigo de opinião vamos abordar estas e outras questões que passam frequentemente nas cabeças de pais ou futuros pais.

Primeiramente, o que é a gaguez?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a Perturbação da Fluência, comumente designada por gaguez, é uma alteração da fluência do discurso oral e verbal que tem impacto no ritmo normal da fala e que se caracteriza pela presença de repetições de palavras e/ou partes de palavras, prolongamentos de sons, pausas inesperadas e por bloqueios de sons da fala, podendo estar ou não associados a comportamentos corporais ou faciais atípicos, tensão muscular excessiva, utilização de circunlóquios (utilizar outras palavras para fugir à utilização de uma outra em que a pessoa acha que vai gaguejar) e ainda mau autoconceito. Importa esclarecer ainda que a gaguez pode apresentar um cariz desenvolvimental ou ser adquirida.

A denominada desenvolvimental é a mais frequente, ocorrendo na infância e tendo por base para o seu aparecimento um importante impacto dos fatores de base genética e hereditária (60% das pessoas que gaguejam têm alguém na família que também o faz). Por sua vez, a adquirida é a menos frequente e pode estar associada a fatores psicológicos ou neurológicos, podendo ter início em qualquer momento da vida. Mesmo que se verifique que o leitor não é uma pessoa que gagueja, nada o impede que, por qualquer motivo, não possa vir a ser.

Neste artigo, e pela razão de ingressar a temática da Intervenção Precoce, vamos debruçar-nos mais sobre a desenvolvimental, ou seja, aquela que surge na criança e que acompanha o seu desenvolvimento sem por qualquer causa traumática e/ou aguda aparente.

A gaguez desenvolvimental é uma patologia sobre a qual ainda não se sabe tudo e sobre a qual muitas questões permanecem por ser respondidas. Ainda assim, uma boa parte do caminho já foi desbravado e é possível afirmarem-se determinados factos. O primeiro é que está igualmente distribuída e é transversal por todas as culturas, grupos étnicos e condições sociais, ou seja, acontece com a mesma frequência em todas as culturas e etnias espalhadas pelo mundo, sejam elas mais ou menos ricas. Sabe-se também que é mais frequente nos homens que nas mulheres e que se estima que, por todo o mundo, haja 70 milhões de pessoas com esta característica.

Quais as causas?

Apesar de não existir consenso científico acerca da origem da gaguez, pensa-se que poderá ser o resultado de fatores biológicos, psicológicos e sociais e, ao contrário do que é comummente afirmado pela “sabedoria popular”, não deriva de sustos ou outros que tais. É também factual que existe um peso importante das características genéticas e hereditárias, como suprarreferido, para a predisposição do aparecimento da gaguez. Contudo, fatores psicológicos, físicos e sociais apresentam um impacto importante. Digamos que existem contextos mais ou menos potenciadores desta predisposição genética, nomeadamente locais onde exista uma maior pressão para o bom desempenho da pessoa que gagueja e a frequência de locais em que sejam desvalorizados os feitos que a criança consegue e valorizados os momentos de gaguez ou de um desempenho menos bom.

(Continua no próximo mês)

Pedro Barros, Terapeuta da Fala da A2000

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