O 25 de Abril de 1974 não foi apenas a queda de um regime; foi o renascimento de uma ideia. Em Portugal, a liberdade deixou de ser um sonho clandestino para se tornar um direito respirado nas ruas. Mas, como toda conquista humana, a liberdade não é apenas um momento — é um processo. Não vive só nos discursos ou nas datas, mas nas escolhas quotidianas de um povo que decide não voltar atrás.
O que é, afinal, a liberdade que o 25 de Abril devolveu aos portugueses? Não foi apenas o fim da censura, da prisão política ou da guerra colonial. Foi o princípio de algo mais vasto: o direito de pensar sem medo, de discordar sem castigo, de sonhar sem grades. A liberdade conquistada nesse dia — de forma quase incrivelmente pacífica — mostrou que a transformação social pode nascer mais da coragem do que da violência, mais da consciência do que da força bruta.
No entanto, essa liberdade não veio sem custos. Foi preciso que muitos antes de Abril sacrificassem os seus dias, os seus corpos, a sua paz interior, para que a esperança pudesse florescer. Muitos viveram e morreram sem ver a liberdade concretizada — mas não desistiram de a imaginar. O 25 de Abril é, por isso, também um ato de justiça para com os que resistiram em silêncio ou em luta, e uma herança que os vivos têm o dever de honrar.
Num mundo onde novas formas de opressão emergem, por vezes disfarçadas de ordem, progresso ou segurança, o espírito de Abril continua a ser uma bússola ética. A liberdade não se limita a votar de tempos a tempos; exige participação, vigilância e responsabilidade. É tão frágil quanto poderosa. Pode desaparecer quando esquecida, mas renasce sempre que alguém tem a coragem de dizer “basta”.
A flor cravada no cano de uma arma naquele dia tornou-se símbolo não só da revolução, mas de um novo tipo de força: a força que não destrói, mas transforma. O cravo é, desde então, mais do que um gesto — é um aviso. A liberdade é bela, mas exige cuidado. É leve, mas custa a carregar. É universal, mas começa no íntimo de cada consciência.
Assim, recordar o 25 de Abril é mais do que celebrar o passado — é comprometer-se com o futuro. É perguntar, todos os dias: estamos a ser dignos da liberdade que nos foi dada? Estamos a ampliá-la, a protegê-la, a partilhá-la com os que ainda vivem na sombra?
A liberdade não está feita — está sempre a fazer-se.
António José Ribeiro, Presidente da Direção da A2000