A integração de Miguel Soares na Alma Campestre, entidade que gere o restaurante dois.cinco.nove e o Café Concerto 259, representa um exemplo concreto de como a valorização da diversidade pode gerar oportunidades reais e promover ambientes de trabalho mais humanos e colaborativos.
Natural de Santa Marta de Penaguião, o Miguel mudou-se para Vila Real em novembro do ano transato com o objetivo de conquistar maior autonomia e independência. Após um mês de adaptação à nova realidade, procurou o apoio da A2000 para iniciar o seu processo de inserção profissional na cidade onde passou a residir. Com o acompanhamento da instituição, iniciou uma experiência laboral no Restaurante dois.cinco.nove em janeiro de 2025, ao abrigo da medida de Apoio à Colocação.
Durante esse período, o Miguel desempenhou tarefas ligadas à higienização do espaço, desde varrer o exterior até à limpeza e desinfeção das casas de banho. O seu empenho e sentido de responsabilidade foram reconhecidos pela entidade, que decidiu integrá-lo formalmente através da medida Estágio Inserção, iniciada a 1 de setembro de 2025.
João Tão, responsável pela Alma Campestre, explica que a oportunidade surgiu de forma espontânea, fruto da própria dinâmica da equipa e da atitude do Miguel. Segundo o responsável, “fomos nós que criámos a necessidade. Ele demonstrou capacidades e, com isso, criou o seu próprio local de trabalho. Vimos que fazia sentido integrá-lo.”
Atualmente, o Miguel desempenha funções nos dois espaços da entidade, colaborando na receção de encomendas, na limpeza geral, no atendimento telefónico para marcações e, em breve, na implementação do sistema HCCP, com foco no controlo de frios e boas práticas alimentares. João Tão destaca que “o Miguel é um rapaz responsável, com sentido de compromisso. Mesmo com as limitações que tem, tem-se apresentado mais positivo e assertivo ao longo do tempo. Mostra empenho e dedicação.”
A adaptação do Miguel ao posto de trabalho decorreu de forma natural, com evolução visível a nível social e profissional. “Integrou-se muito bem na equipa, aceita novas dinâmicas, não tem medo de arriscar nem de aceitar novos horários e tarefas. No geral, corre muito bem”, acrescenta o responsável.
A postura da Alma Campestre é clara: há total abertura para integrar pessoas com incapacidade e para estabilizar vínculos com quem demonstra competência e valor. “Queremos enquadrar o máximo de pessoas com outras características. Dentro das pessoas que foram passando por cá, o Miguel mostrou que tem capacidades para estar a 100% na entidade.”
O Miguel reconhece que o apoio da A2000 foi determinante para esta mudança: “A intervenção da A2000 foi crucial. Dificilmente, ou talvez nunca, conseguiria ter um trabalho, porque ainda há muito estigma sobre a deficiência e sobre quem a possui, especialmente no mercado de trabalho.” Para ele, a mudança para Vila Real foi o ponto de viragem: “Foi o pilar para eu estar hoje integrado, tanto socialmente como no mundo do trabalho. Deixei as amarras que me prendiam e não me deixavam voar. Sendo Vila Real uma cidade, abriu-se todo um leque de oportunidades.”
João Tão reforça o papel da A2000 neste processo: “De 0 a 10, dou 11. É indispensável, no apoio, na mediação. São fundamentais para que o Miguel esteja estável a nível emocional e social. Este apoio próximo é muito importante para gerir todas as situações imprevistas que vão surgindo.”
Para concluir, deixa um apelo às entidades e empresas que ponderam integrar pessoas com deficiência: “Acho que devemos experimentar. Podemos ter boas descobertas. Nem todas as pessoas com deficiência são iguais, mas muitas surpreendem-nos. Na verdade, entregam muito mais. O agradecimento que demonstram por estarem enquadrados no mercado de trabalho é muito benéfico. Devolvem felicidade, o que contribui para a nossa satisfação pessoal. São elementos muito bons, com qualidades diferentes. A surpresa é muito interessante.”
A história do Miguel mostra que, quando há oportunidade, apoio e confiança, a inclusão acontece e transforma.
Margarida Pinto, Psicóloga da A2000