Seminário “Cidadania em Ação”

Sessão de abertura do seminário

O mês de dezembro marcou o fim do projeto Cidadania em Ação, que envolveu um Seminário de apresentação dos resultados do diagnóstico efetuado no concelho de Mondim de Basto, realizado no dia 10 de dezembro.

O Seminário Cidadania em Ação teve como principal objetivo informar e sensibilizar a comunidade acerca do seu papel na inclusão social da pessoa com deficiência ou incapacidade.

Na sessão de abertura estiveram presentes os presidentes da A2000 (António José Ribeiro) e da ASAD (Associação Social de Apoio à Deficiência – Mondim de Basto) (Cláudia Dinis); o presidente do Município de Mondim de Basto (Humberto Cerqueira) e o Diretor do Centro Distrital de Segurança Social de Vila Real (José Rebelo).

Da sessão de abertura destacamos a total consonância dos presentes em reconhecer a necessidade e a importância de criar respostas para as pessoas com deficiência no concelho, bem como a relevância do estabelecimento de parcerias e de articulação dos intervenientes locais para se conseguir uma intervenção mais ampla e adequada às especificidades de cada um.

O Seminário teve três painéis, de manhã “O sonho constrói-se a partir da realidade” e de tarde “Diretos da pessoa com deficiência ou incapacidade” e “A realidade transforma-se a partir do sonho”.

De manhã a Psicóloga da A2000 – Patrícia Maçãs – apresentou os dados recolhidos no concelho de Mondim de Basto, o que envolveu 3 níveis de informação:

  • resultados do levantamento realizado com o objetivo de identificar e caraterizar as pessoas adultas com deficiência;
  • resultados do inquérito aplicado às pessoas com deficiência com o objetivo de caraterizar as suas principais necessidades, em termos de qualidade de vida e inclusão;
  • resultados do inquérito aplicado na comunidade com o objetivo de caraterizar a perceção do cidadão comum, residente em Mondim de Basto, quanto à deficiência  (necessidades e oportunidades de inclusão).

Depois da apresentação dos números, seguiu-se o depoimento de um pai (Sr. António Lemos) de uma pessoa com multideficiência, residente em Mondim de Basto. Pretendeu-se evidenciar aos participantes do Seminário que, por detrás de cada um dos números revelados na apresentação anterior uma pessoa, há uma família que todos os dias e todas as horas se debate com as dificuldades, obstáculos e angústias advindas, não apenas da deficiência, mas também da falta de apoios e oportunidades advindas do isolamento em que Mondim de Basto está, no que se refere à problemática de deficiência.

Seguiu-se a apresentação da Pista Mágica – Escola de Voluntariado (na pessoa de Ana Luísa Azevedo): “Cidadania é … contribuir para um mundo mais justo” que salientou a importância do voluntariado, como rentabilização de recursos, mas alertou para a necessidade programar essa envolvência atendendo a que as circunstâncias do mundo atual são outras, e portanto se a pessoa – face a tantas solicitações e oportunidades que a vida oferece – resolve disponibilizar o seu tempo a uma causa, esta tem que ser gratificante e responder à expetativa do voluntário. Ou seja, o voluntário para se manter comprometido com uma causa, tem que sentir-se realmente útil, reconhecido e realizado.

Os dinamizadores do painel – Vereador do Pelouro do Desporto, Juventude e Associativismo (Nuno Lage) e o Presidente da Freguesia de Paradança (Joaquim Pereira) comentaram as apresentações e salientando que a realidade é cinzenta, mas que as possibilidades de mudança estão já identificadas, por isso nasceu já uma Associação em Mondim (ASAD) com o objetivo de mobilizar os apoios para as pessoas com deficiência, ressaltaram a importância do papel de cada um dos cidadãos na mudança da realidade, seja como voluntários ou no desempenho das suas funções do dia a dia.

A tarde começou com a dos direitos da pessoa com deficiência, perante a Segurança Social, pelo Dr. Eduardo Sousa (CDSS de Vila Real). Seguiu-se a apresentação da Enfermeira Patrícia Capela (Coordenadora da UCC de Mondim de Basto) que apresentou os direitos do cidadão na componente da Saúde (acompanhamento desde o 1º dia de vida: deteção de sintomas, avaliação, acompanhamento, apoios/ajudas técnicas).

Os elementos do Agrupamento de Escolas de Mondim de Basto (Eduardo Freitas, Coordenador da Educação Especial, e Tânia Cruz, Psicóloga Coordenadora do SPO) apresentaram o enquadramento legal da educação inclusiva, salientando os direitos dos alunos, principalmente daqueles que têm necessidades específicas).

Seguiu-se a apresentação das medidas de apoio à empregabilidade disponibilizadas pelo IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional), apresentadas pelo Engº Miguel Pinto do Serviço de Emprego do Médio Ave.

A Psicóloga da Câmara Municipal de Mondim de Basto (Teresa Silva) apresentou as medidas e poios prestados pelo Município aos munícipes sempre que estes revelam algum tipo de carência, onde se enquadram as pessoas com deficiência.

Os dinamizadores deste painel: Diretora do Agrupamento de Escolas de Mondim de Basto – Isabel Coutinho – e o Diretor Técnico da CERCIFAF – Luís Roque – também deixaram o seu depoimento. A Dra. Isabel Coutinho, referiu que a Educação tem um papel inclusivo determinante, apesar de se nem sempre reunir todos os recursos necessários. O Dr. Luís Roque salientou que naquela tarde se ouviu falar das legislações que protegem os direitos da pessoa com deficiência, aos vários níveis estruturais, e que tudo parecia perfeito, mas que a realidade é bem diferente, porque a articulação dos serviços e a sensibilidade dos profissionais nem sempre é a adequada/esperada, para que os procedimentos (legalmente instituídos) respondam às necessidades reais e específicas de cada pessoa com deficiência. Revelando que a inclusão – seja a que nível for – mais do que de leis, depende muito da vontade e da sensibilidade de cada um de nós que operamos nos diferentes serviços.

O terceiro painel do dia “A realidade transforma-se a partir do sonho” consistiu na apresentação conjunta da A2000 e da ASAD, onde cada uma caraterizou o seu percurso – a A2000 com 18 anos e a ASAD com 3 anos de existência – sendo a A2000 de fora do concelho e a ASAD nascida no concelho.

Foi salientado, que apesar das diferenças e, graças a elas, estas duas entidades decidiram estabelecer uma parceria, com o apoio financeiro do Município de Mondim de Basto, com a finalidade de prestar várias respostas às pessoas com deficiência, residentes no concelho.

A A2000 tem dois acordos de cooperação com a Segurança Social (IPI – Intervenção Precoce na Infância e CAARPD – Centro de Atendimento, Acompanhamento e Reabilitação Social para pessoas com deficiência ou incapacidade) que também abrangem o concelho de Mondim de Basto, mas que não estão a ter o impacto esperado, em parte devido ao facto da A2000 não estar fisicamente instalada no concelho, por sua vez a ASAD, que é do concelho, não tem qualquer resposta social.

Assim, juntas pretendem potenciar os recursos de forma a prestar serviços eficazes a todas as pessoas com deficiência de Mondim de Basto, nomeadamente: IPI, CAARPD, três projetos cofinanciados pelo INR e Formação Profissional (no âmbito do PO ISE).

A Sessão de Encerramento deste evento ocorreu com a assinatura do Acordo de Parceria entre a A2000 e a ASAD, do qual constam os compromissos acima descritos.

O público presente neste Seminário – Cidadania em Ação – foi diversificado desde técnicos que operam na área social, pessoas com deficiência ou incapacidade, seus significativos, representantes da entidades autárquicas, alunos e professores do Agrupamento de Escolas de Mondim de Basto e de cursos EFA a decorrer no concelho, que deram dinâmica ao evento e se tornaram participantes do movimento de inclusão que se pretende seja abrangente e fomentador de um concelho mais justo para todos.  

Marina Teixeira, Diretora Técnica da A2000

 RESULTADOS DO DIAGNÓSTICO  EFETUADO EM MONDIM DE BASTO

O levantamento envolveu  a identificação de 78 pessoas adultas com deficiência ou incapacidade e o gráfico seguinte revela como se distribuem pelas diferentes categorias nosológicas:

 Em Resumo, nas 78 PCDI verifica-se que:

  • 53% (41 PCDI) têm deficiência cognitiva
  • 51% (40 PCDI) encontra-se na faixa etária dos 30 aos 49 anos
  • 24% (19 PCDI) não frequentou a escola
  • 41% (32 PCDI) frequentou o 1º ciclo
  • 24% (19 PCDI) reside na Freguesia de S. Cristóvão de Mondim de Basto
  • 21% (21 PCDI) reside na Freguesia de Vilar de Ferreiros
  • 17% (17 PCDI) reside na Freguesia de Bilhó
  • 58% (45 PCDI) tem autonomia nas AVD’s
  • 33% (26 PCDI) reúne perfil para frequentar formação profissional

· 58 PCDI (73% ) não tem nenhuma resposta da Segurança Social específica para PCDI’s

· 12 PCDI (15%) frequenta uma resposta da Segurança Social específica para PCDI’s

· 8 PCDI (10%) trabalha, mas apenas 5% tem um contrato de trabalho

 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO APLICADO

ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA OU INCAPACIDADE (PCDI)

Foi aplicado um questionário às 78 pessoas identificadas, elaborado atendendo ao modelo de Qualidade de Vida (Q.V.) de Shalock, o qual Envolve 3 dimensões: Desenvolvimento pessoal, Bem-estar (Físico, Material e Emocional) e Inclusão social.

Este inquérito teve o objetivo de percecionar quais os domínios da qualidade de vida, a que as PCDI`S dão uma maior importância, entendendo que “Q.V. é a perceção do indivíduo acerca da sua posição na vida, de acordo com o contexto cultural e os sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expetativas, padrões e preocupações.” (segundo a WHOQOL Group, 1995).

Assim, e por dimensão salientam-se alguns resultados:

Þ Desenvolvimento Pessoal

· Relações Interpessoais:

64% nunca teve namorado/a

15% não costuma interagir com pessoas fora da família

· Autodeterminação:

73% não consegue/não sabe deslocar-se em transporte público

61% não usa as tecnologias de comunicação

Nota: A autonomia e tomada de decisão são restritos ao contexto familiar e a socialização também é baixa fora do contexto familiar e de proximidade.

Þ Bem-estar (Físico, material e emocional)

No geral, é nesta área que a pessoa se sente mais satisfeita, apesar de que a satisfação ao nível do bem-estar material revela pouca consciência dos seus recursos e do muito que existe para conquistar, sendo o bem-estar emocional aquele que revela maior insatisfação (51%) reflexo do isolamento das PCDI, da falta de amigos e da baixa inserção/convívio na comunidade.

Þ Inclusão Social

· Cidadania

43% refere participar nas atividades recreativas do concelho e apenas 32% pratica desporto

88% recebe apoios da Segurança Social e como apenas 5% tem emprego, significa que 7% não tem qualquer apoio

· Empregabilidade

89% desta população não está inscrita no IEFP, ou seja o seu percurso de inclusão terminou quando saiu da Escola, ao regressar à família a tempo inteiro

76% nunca procurou emprego, esta % inclui pessoas que poderiam integrar o mercado de trabalho e que se resignou a ficar em casa, mas a grande maioria não tem perfil para trabalhar

5% tem contrato de trabalho.

 RESULTADOS DO INQUÉRITO APLICADO

AO PÚBLICO EM MONDIM DE BASTO

Foi aplicado um inquérito ao público em geral do concelho de Mondim de Basto, o qual tinha duas partes. A 1ª parte pretendia salientar em que áreas a comunidade se manifesta mais recetiva/disponível à deficiência; a 2ª parte propunha ao inquirido imaginar-se com uma deficiência e pensar o que seria pior para si, no dia a dia.

Notou-se ao longo do questionário que os inquiridos iam aprofundando a sua consciência da realidade percecionando-a de uma forma algo negativa ou realista para com a deficiência.

Assim, apenas 49% considera haver disponibilidade da comunidade para ajudar as pessoas com deficiência e, apesar de 35% dizer que vê pessoas com deficiência em eventos sociais (não sabemos se poucas ou muitas), quanto à perceção de que os direitos são defendidos pela comunidade a percentagem ainda é menor (24%) e desce ainda mais (18%) quando questionados sobre os apoios existentes para as pessoas com deficiência ou incapacidade serem os necessários.Verifica-se que no início do questionário, maioritariamente os inquiridos mostram-se disponíveis e sensível às pessoas com deficiência ou incapacidade (PCDI), aos seus direitos e necessidades, no entanto, a maioria dos inquiridos não acredita que a comunidade   defende e apoia as PCDI nas suas necessidades.

Na 2ª parte do questionário, perante a hipótese de ter uma deficiência, os inquiridos nas questões relacionadas com o domínio da Inclusão Social concordaram que o pior para eles seria não terem acesso às dimensões do exercício da cidadania e da empregabilidade. Seguiram-se as áreas do domínio do bem-estar, principalmente os aspetos da saúde, e depois as questões do desenvolvimento pessoal (das relações interpessoais e da autodeterminação).

Por outras palavras, aquilo que os inquiridos teriam receio de perder ou, não poder aceder, prende-se com a perda de direitos, o acesso ao  emprego e o bem-estar físico, isto é, sem saúde, sem liberdade para poder participar, sem emprego/fonte de subsistência … é difícil ser feliz.

Em 2º lugar, surge o bem-estar emocional e material, isto é, sentir-se seguro, amado, ter casa, ter telemóvel, ter conforto e saber que há apoios quando é preciso…faz-nos sentir mais felizes e protegidos.

Em 3º lugar surgem as dimensões das Relações Interpessoais e da Autodeterminação e também nestas dimensões é onde há uma maior percentagem de respostas de  “Indiferença”, o que quer dizer que os inquiridos não valorizam estes aspetos como importantes na vida deles, talvez porque os têm tacitamente, sem nunca terem de lutar por eles. Se não os tivessem perceberiam que sem relações interpessoais e sem autodeterminação seriam prisioneiros num mundo ditatorial.

Por isso, em contrapartida, as PCDI, no seu questionário, apontam como mais importante as relações interpessoais, a tomada de decisões e a autonomia, porque vivem isoladas e circunscritas ao contexto familiar, sentindo as limitações impostas por esta realidade.

Sem poder usufruir das condições mais básicas do desenvolvimento pessoal, não é possível passar ao patamar da Inclusão Social.

Em conclusão, e comparando os resultados do inquérito aplicado às pessoas com deficiência com os do inquérito aplicado ao público em geral, constatou-se que:

  • o público em geral tem dificuldade em colocar-se no lugar do outro, principalmente quando o seu é mais confortável.
  • o público em geral não tem uma compreensão plena das implicações advindas da deficiência, principalmente na área afetos, da intimidade, da sexualidade e também não percebe que se não houver compreensão das regras sociais são, necessariamente excluídas
  • o público ainda dificuldade em percecionar um futuro risonho para as PCDI, para lá das suas limitações.

Urge desmistificar algumas ideias e reforçar outras, aqui espelhadas, mas se todos “estiverem atentos” será mais fácil ajudar as PCDI a superarem as suas dificuldades.

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